Métodos de Ensino-Aprendizagem

Seguindo o que as DCNs dos cursos de Medicina estabelecem, os métodos de ensino-aprendizagem devem ser centrados no estudante e apoiado no professor como facilitador e mediador desse processo.

A educação contemporânea deve pressupor um discente capaz de se auto gerenciar ou auto governar seu processo de formação. Neste contexto, a formação dos médicos no Campus de Araranguá tem como objetivo formar um médico humanista, autônomo, que tenha competência de trabalhar em equipe, que possa, após sua graduação, continuar desenvolvendo suas habilidades e conhecimentos nos pequenos municípios do interior do estado.

Assim o curso contará na formação dos novos médicos com Metodologias ativas de ensino-aprendizagem, por serem alicerçadas em um princípio teórico significativo: a autonomia. Destacamos que o ato de ensinar exige respeito à autonomia e à dignidade de cada indivíduo, alicerce para uma educação que considera o sujeito como ser que constrói sua própria história.

Por isso, os docentes do curso serão facilitadores, com habilidades para permitir ao discente participar ativamente de seu processo de aprendizagem, capaz de respeitar, escutar e acreditar na capacidade do aprendiz, no intuito de haver o desenvolvimento e a aprendizagem em um ambiente de liberdade e apoio.

Serão utilizados, para o curso de medicina de Araranguá, quatro métodos ativos de ensino-aprendizagem: aprendizagem baseada em problemas, aprendizagem baseada em equipes, aprendizagem baseada em projetos e aprendizagem baseada em casos. Tais métodos contribuirão, de forma conjunta, com estes objetivos, pois se complementarão para a formação do egresso.

Aprendizagem Baseada em Problemas

As atuais correntes de pensamento sobre teorias de aprendizagem privilegiam os métodos ativos de ensino-aprendizagem, onde os estudantes são os responsáveis pelo processo de aprendizagem, facilitados pelos docentes. Dentre estes métodos, o mais utilizado nos cursos de medicina na atualidade é o Problem-Based Learning (PBL – Aprendizagem Baseada em Problemas).

A melhor compreensão dos fatores que influenciam o armazenamento e a recuperação de informações pela mente humana foi um grande passo para o desenvolvimento de metodologias de ensino mais adequadas ao aprendizado de adultos. Henk Schmidt cita seis fundamentos básicos para o aprendizado:

 

■ A disponibilidade de conhecimentos prévios, que é o principal determinante da natureza e da qualidade de novas informações que um indivíduo pode processar.

■ A ativação dos conhecimentos prévios a partir de “pistas” dadas pelo contexto em que as novas informações estão sendo estudadas, que é essencial para possibilitar que elas sejam compreendidas e relembradas.

■ A elaboração das novas informações, que favorece o seu armazenamento na memória e sua recuperação posterior.

■ A motivação para a aprendizagem, que leva a maior tempo de estudo e, consequentemente, a melhores resultados.

■ A maneira pela qual o conhecimento está estruturado na memória, que determina o quanto ele é acessível para utilização.

 

A “dependência do contexto” gera a possibilidade de ativar o conhecimento existente na memória de longo prazo em contextos futuros semelhantes. A Aprendizagem Baseada em Problemas (PBL) nasceu da melhor compreensão do processo de aprendizado do adulto. Seus princípios básicos não são novos, tendo muitos deles sido trabalhados na década de 1950. O ensino contextualizado – ou seja, o ensino em uma situação próxima daquela na qual o conhecimento será utilizado – aumenta a compreensão, a retenção e o aprendizado em adultos. Outros fatores importantes no aprendizado são: o aprendizado cumulativo, o aprendizado baseado nas dúvidas/questões dos próprios alunos, a integração de diferentes áreas do conhecimento e aplicação do conhecimento adquirido em situações reais. O PBL inclui a estruturação do conhecimento dentro de um contexto específico, permite ao aluno defrontar-se com problemas concretos – o que poderia potencializar o desenvolvimento do raciocínio clínico – favorece o desenvolvimento da habilidade de estudo autodirigido e o aumento da motivação para o estudo. O método PBL valoriza, além do conteúdo a ser aprendido, a forma como ocorre o aprendizado, reforçando o papel ativo do aluno neste processo, permitindo que ele aprenda como aprender.

Este método é utilizado nos módulos sequenciais do 1o ao 8o semestres do curso.

Aprendizagem Baseada em Equipes

A inovação no ensino com o uso de metodologias ativas de ensino têm sido utilizados para aumentar a participação dos alunos em seu processo de aprendizagem, tais como o Team-Based Learning (TBL – Aprendizagem Baseada em Equipes).

O TBL requer preparação extraclasse, que por sua vez exige dos alunos uma autoaprendizagem e responsabilidade individual perante as equipes que pertencem na aplicação dos conhecimentos adquiridos, comportamentos de aprendizagem importantes e benéficos para o futuro profissional. O TBL oferece oportunidades de interação, colaborando com uma relação mais ativa de trabalho entre os grupos, o que é importante para a prática profissional do futuro médico.

O TBL tem particularidades que o diferenciam de outras estratégias para ensino em pequenos grupos, incluindo o PBL. Não requer múltiplas salas especialmente preparadas para o trabalho em pequenos grupos, nem vários docentes atuando concomitantemente. Além disso, propõe-se a induzir os estudantes à preparação prévia (estudo) para as atividades em classe. O instrutor deve ser um especialista nos tópicos a serem desenvolvidos, mas não há necessidade que domine o processo de trabalho em grupo.

Os estudantes não precisam ter instruções específicas para trabalho em grupo, já que eles aprendem sobre trabalho colaborativo na medida em que as sessões acontecem. Tem sua fundamentação teórica baseada no construtivismo, em que o professor se torna um facilitador para a aprendizagem em um ambiente despido de autoritarismo e que privilegia a igualdade. As experiências e os conhecimentos prévios dos alunos devem ser evocados na busca da aprendizagem significativa.

Neste sentido, a resolução de problemas é parte importante neste processo. Além disso, a vivência da aprendizagem e a consciência de seu processo (metacognição) são privilegiadas. Outra importante característica do construtivismo é a aprendizagem baseada no diálogo e na interação entre os alunos, o que contempla as habilidades de comunicação e trabalho colaborativo em equipes, que será necessária ao futuro profissional e responde às DCNs brasileiras. Finalmente, o TBL permite a reflexão do aluno sobre a prática, o que leva às mudanças de raciocínios prévios.

Aprendizagem Baseada em Projetos

É a metodologia ativa de ensino-aprendizagem em que os discentes se envolvem com tarefas e desafios para resolver um problema ou desenvolver um projeto. O método do Project-Based Learning (PjBL – Aprendizagem Baseada em Projetos) enfatiza atividades de aprendizagem que são de longo prazo; no processo, os discentes lidam com questões interdisciplinares, tomam decisões e agem de maneira interdisciplinar em grupo e centrado no aluno. Por meio dos projetos, são trabalhadas também suas habilidades de pensamento crítico, criativo e a percepção de que existem várias maneiras para a realização de uma tarefa.

Em um procedimento de projeto, a característica fundamental é que o docente insista no desafio do êxito daquela tarefa especifica, lembrando que a mesma perde o seu sentido se não chegar a um produto acabado. Frequentemente esse desafio pessoal e coletivo é acompanhado por um contrato moral com terceiros.

O trabalho com projeto também dá aos alunos a oportunidade de explorar os problemas e desafios que têm aplicações do mundo real, aumentando a possibilidade de retenção a longo prazo de habilidades e conceitos. Além disto, o estudante se empodera de uma das funções mais importantes da profissão médica, especialmente do egresso esperado por esta estratégia de expansão dos cursos de medicina das IFES: o papel social ativo de modificador da realidade social e de saúde da população sob seus cuidados.

Destaca-se na Aprendizagem Baseada em Projetos que o discente tem a oportunidade não só aprender as disciplinas médicas, mas de implementá-las na comunidade, aprendendo o que é importante naquele contexto, tendo assim o aprendizado com responsabilidade social.

A técnica também ajuda a criar melhores hábitos e atitudes de trabalho para a aprendizagem. Os discentes aprendem habilidades que são essenciais no ensino superior, pois lhes permite expandir as suas mentes e pensar além do que fariam normalmente. Eles têm de encontrar respostas para as perguntas e combiná-las, usando habilidades de pensamento crítico para chegar às respostas.

De um modo geral, a importância especial do projeto deve ser associada à singular mediação realizada entre a criação individual, a intenção de reprodução, a habilidade de criação e o desenvolvimento, levando a uma realização pessoal abrangente entre as expectativas do novo e a consolidação de padrões no imaginário coletivo, numa busca continua pela excelência da qualidade.

Aprendizagem Baseada em Casos

O ensino baseado em casos pode ser apenas umas das estratégias utilizadas para a aprendizagem, convivendo com outros modelos de implementação curricular mais tradicionais. Em ambientes de aprendizagem baseados no uso da informática, os “estudos de caso” ou “casos” são segmentos do sistema que apresentam de forma contextualizada e problematizada algumas situações e conceitos críticos, selecionados de acordo com sua relevância para a área de estudo ou de prática. Sua finalidade é dar aos alunos a oportunidade de perceber e compreender os conceitos aplicados à prática profissional.

Casos são problemas baseados em situações reais que possibilitam aos alunos vivenciarem as etapas de coleta de informação, de análise e de tomada de decisões para a solução dos problemas pelas quais um profissional passa quando encontra-se diante destas situações em seu cotidiano do trabalho. Podem, também, reconstituir historicamente o processo pelo qual um cientista passou para chegar a uma determinada descoberta que acarretou na construção de novos conceitos e abordagens, implicando em avanços consideráveis para o campo da pesquisa e da prática numa determinada área do conhecimento.

Alguns casos são mais importantes, para o domínio e para a prática da população alvo, que outros. Os casos devem ser selecionados em função do quanto eles podem ajudar os estudantes a pensar (Schank & Cleary, 1995). Nesse sentido, um caso pode ser considerado pertinente para a aprendizagem porque contém fatos, porque não é usual ou porque representa uma classe de coisas que ocorrem repetidamente.

Essencialmente, o raciocínio baseado em casos significa resolver novos problemas adaptando velhas soluções, e interpretando novas situações à luz de situações anteriores. Há três processos básicos envolvidos nesse tipo de raciocínio: a recuperação de um caso similar, a adaptação da informação registrada à nova situação levando em consideração as diferenças entre elas e a integração do novo conhecimento.